sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A menina do vestido azul

Num bairro muito pobre de uma cidade distante, morava uma garotinha muito
bonita.
Ela freqüentava a escola local. Sua mãe não tinha muito cuidado e a criança
quase sempre se apresentava suja. Suas roupas eram velhas e maltratadas.
Até um dia em que um professor penalizou-se com a menininha. Como uma
garota tão bonita pode vir para a escola tão mal arrumada? Separou algum
dinheiro de seu salário e, embora com dificuldade, lhe comprou um vestido
novo. A garotinha ficou ainda mais bonita no seu vestidinho azul.
Quando a mãe viu a menina naquele vestido azul, sentiu que era lamentável
que sua filha, vestindo aquele traje novo, fosse tão sujinha para a escola. Por
isso passou a lhe dar banho todos os dias, pentear seus cabelos, cortar e
limpar suas unhas.
Depois de uma semana, o pai falou: “Mulher, você não acha uma vergonha que
nossa filha, sendo tão bonita e bem arrumada, more em um lugar como este,
caindo aos pedaços? Que tal ajeitar a casa? Nas horas vagas vou pintar as
paredes, consertar a cerca e plantar um jardim”.
Em pouco tempo a casa da garotinha destacava-se na pequena vila pela
beleza das flores que enchiam o jardim, pela limpeza, pelo capricho de seus
moradores com seus pequenos detalhes. Os vizinhos ficaram envergonhados
por morar em barracos feios e resolveram também arrumar suas casas, plantar
flores, usar pintura, água e sabão, além de criatividade.
Logo, o bairro estava todo transformado. Um homem que acompanhava os
esforços e as lutas daquela gente achou que eles bem que mereciam um
auxílio das autoridades. Foi ao prefeito e expôs suas idéias e saiu de lá com
autorização para formar uma comissão para estudar os melhoramentos que
seriam necessários no bairro.
A rua de lama foi substituída por asfalto e calçadas de pedra. Os esgotos a céu
aberto foram canalizados e o bairro ganhou ares de cidadania.
Tudo começou com um vestidinho azul.
Não era a intenção daquele professor consertar a rua, nem criar um organismo
que socorresse o bairro. Ele fez o que podia apenas a parte que lhe cabia.
Qual será a parte de cada um de nós? Será que basta apontar os buracos da
rua, reclamar dos erros do vizinho e cuidar apenas do portão para dentro?
É difícil mudar o estado total das coisas. É difícil varrer toda a rua, mas é fácil
varrer nossa calçada. É difícil modificar o bairro, mas podemos começar pela
nossa casa, deixando-a mais bonita. É difícil reconstruir o planeta, mas é
possível dar um vestido azul.


Cleibiana Seibel

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